GUEDES, Alexis D. et al. O hormônio de crescimento na síndrome de Turner: dados e reflexões. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2008, vol.52, n.5, pp. 757-764. ISSN 0004-2730.
“De s d e a d e s c r i ç ã o c l á s s i c a de Henry Turner, em 1938 (1), que dizia
respeito a sete mulheres com sinais físicos peculiares, já se identificava a
baixa estatura como um dos principais achados que caracterizavam a síndrome
que herdou seu nome. Atualmente, a despeito da identificação crescente de
outras múltiplas alterações clínicas na síndrome, apenas a deficiência estrogênica alcança prevalência semelhante à da perda estatural.” (p.757)
“Acompanhando curvas que ilustrem a evolução do
crescimento natural das mulheres com síndrome de Turner (ST) do nascimento até a idade escolar detectase agravo estatural precoce, porém discreto, que progressivamente acompanha o acréscimo na idade
cronológica.” (p.758)
“Desde as primeiras publicações sobre o tema, houve
consenso entre especialistas a respeito do papel da haploinsuficiência do gene SHOX como principal fator na definição da estatura das mulheres com ST, porém, a questão da existência de fatores adicionais contribuintes para este processo gerou algum debate e ainda encontra-se aberta a novas fundamentações.” (p.758)
“A experiência clínica com hormônio de crescimento recombinante (GHr) é relativamente recente. A Food
and Drug Administration (FDA), agência americana
de controle de medicações, autorizou o uso do GHr
apenas em 1996. Nessa época, iniciou-se tal terapêutica no Brasil, em virtude da distribuição do medicamento pela Secretaria de Saúde do Estado de São
Paulo. Existem múltiplos aspectos ainda a serem analisados sobre esta forma de tratamento e suas conseqüências.” (p.758)
“O tratamento com GHr, além do impacto no crescimento somático, influencia de maneira positiva o comportamento psicossocial e a qualidade de vida das
pacientes, sobretudo quando associado, no tempo adequado, à terapia estrogênica.” (p.759)
“Assim como em outras indicações, o tratamento que visa o crescimento com GHr não é isento de riscos e incertezas. Entre os efeitos colaterais descritos, alguns são identificados em outras condições com uso de somatotrofina. Outros, porém, são precipitados ou agravados pela referida medicação, interagindo com
condições próprias da ST.” (p.759)
“O hormônio humano do crescimento (human growth hormone – hrGH), fundamental para o crescimento, o desenvolvimento e a maturação sexual, tem sido extensivamente estudado desde seu isolamento, em 1944. O hrGH é secretado pela hipófise e apresenta efeito direto na regulação somática do crescimento mediado pela interação com o seu receptor (GHR), agindo por estimulação da secreção hepática de
IGF-1 com importantes efeitos autócrinos e parácrinos. A secreção de hGH pela hipófise é estimulada pela liberação de GHRH (growth hormone releasing hormone) e ghrelina. A secreção de hGH foi determinada em muitos sítios, incluindo discreta população neural do sistema nervoso central (SNC), células endoteliais
dos vasos sangüíneos, células epiteliais da glândula mamária e do timo e células do sistema imune, incluindo macrófagos, células B, células T e células natural killer.” (p.760)
“O risco de desenvolvimento de câncer é determinado pela combinação de fatores genéticos e efeitos ambientais, em particular dieta e estilo de vida. Sabe-se
que o aumento de hGH circulante aumenta a expressão de IGF-1 que, por sua vez, tem sido implicado na gênese de diversos tipos de cânceres. Existem grandes evidências de que o hGH, pelo aumento da expressão
de IGF-1, provê maior ligação entre esses fatores e o desenvolvimento de câncer por meio da sua influência na regulação da proliferação, da diferenciação e da
apoptose celular. Sua expressão inapropriada parece
contribuir para o crescimento, a manutenção e a progressão da maioria das neoplasias, incluindo câncer de
mama, pulmão e cólon.” (p.760)
“As portadoras da ST apresentam aumento da mortalidade relacionado com a doença cardiovascular e distúrbios tireoidianos. Embora ainda controverso , nessas pacientes, o risco de câncer está associado,
principalmente, à presença do cromossomo Y, íntegro ou
não, que pode levar ao desenvolvimento de gonadoblastoma e/ou disgerminoma nas gônadas disgenéticas.” (p.760)
“O imprinting genômico é um fenômeno referente
à expressão diferencial de genes dependendo da origem
parental. Acredita-se que tenha envolvimento em mamíferos na regulação da dosagem de genes relacionados
com o desenvolvimento. Surpreendentemente, a
maioria dos fetos abortados portadores da ST tem o
cromossomo X de origem paterna, sugerindo papel importante do imprinting genético nessas perdas.
Em humanos, a perda da regulação dos mecanismos
de imprinting foi relacionada com as alterações de viabilidade de fetos, o crescimento fetal e pós-natal e o
desenvolvimento neurológico e comportamental (58,59).
Além disso, as alterações nos mecanismos de imprinting podem ocasionar anormalidades no padrão de metilação do DNA, as quais foram verificadas em diversas
neoplasias em humanos, principalmente, nos genes supressores de tumor, genes de reparo do DNA e nos
genes inibidores de metástases.” (p.761)
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